Um grupo de 5 meninas nas mais variadas idades, a mais velha com uns 12 anos, entram em local público pedem esmolas, muitas pessoas fazem que não as ouvem ou nem as olham, assim nada conseguem em moedas. Uma delas divide suas balas com as outras e ficam conversando entre si. Pelo que compreendi estavam fugidas de suas casas, porque segundo elas uma mulher (cujo apelido citado por elas era palavrão), havia invadido a caminha delas a noite, e as “bolinavam” (era o que diziam) e elas estavam enojadas disto, e com muito medo porque ela estava drogada e com uma arma, e, havia recebido R$ 500,00 (quinhentos reais) de um homem para levar com ele a mais velha. Choramingavam, e baixinho planejavam um jeito de como matar essa mulher, se ela voltasse a molestá-la novamente a noite. E, contavam suas moedas, para ver se conseguiriam o dinheiro para ir para casa de uma tia em outro lugar, todas fugidas. Naquele local onde estavam não receberam nenhuma moeda, planejavam ir para outro local. Aproximei-me, e disse para aquela com mais idade, no numero 180, no telefone público, você pode contar isto, e a policia ira ajudar vocês, prendendo esta mulher. E dei-lhe cinco reais, para comprar alguns biscoitos para elas. Todas me olharam muito desconfiadas, e ela disse-me: senhora não e verdade isto, a polícia não nos atende, nós somos de família negra e moramos em favela, lá eles não entram. Quem manda são os outros, e nós vamos para a casa de uma tia, para ela cuidar de nós, e saíram correndo...
As pessoas a minha volta olhavam-me como se eu fosse um “ET”, apenas uma mulher comentou, a sra ouviu o que ocorria com elas? Disse-lhe: sim, por isto escrevi o número de telefone180 no papel que entreguei para ela, e expliquei como devia fazer. Ela respondeu: estão amedrontadas. É, lamentável, estão com medo até de polícia que poderia de certa forma ajudá-las. Muitas pessoas entreolhavam com um sorriso de escárnio e deboche, quedei-me pensando quão duro estão os corações das pessoas, inclusive tive que admitir que há mulheres que desvirtuam meninas, e há mulheres que nada fazem por elas. Fui chamada para entrar no local que aguardava o atendimento, não pude saber dos comentários daquelas pessoas tão omissas, enquanto eu saía dali.
Outro dia um garoto de uns treze anos, mulato, bonitinho, roupas e tênis (de classe média) – sujos, sem dúvida, olhar parado pela droga (ou doença?), aproximou-se de um grupo e pedia dinheiro para um café. As pessoas se afastavam dele como se estivesse com lepra e nem o olhavam, encontrei R$ 2,00 (dois reais) no moedeiro, passei para ele que sorriu um pouquinho, e perguntou-me se eu tinha passe de ônibus, cartão de telefone público, respondi-lhe que não. Neste ínterim uma mulher começou a falar em voz alta: saia daqui moleque, e a senhora não tem que dar esmolas para ele aqui. Cuide de sua bolsa, ele está drogado, vai lhe assaltar. Ele olhou-me assustado. Mantive-me observando aquela mulher, e logo outras fizeram-se solidárias a ela. E, aquela primeira disse-me em tom repreensivo: se ele pedir de novo não dê esmolas, ele mente que é para café. Perguntei-lhe a senhora conhece este garoto? Não. Então não sabe da história de vida dele, e quem foi que o levou por este caminho, e também não sabe se ele está com fome. Ele precisa se alimentar, encontrar pessoas que lhe mostrem que há outro tipos de pessoas, que acreditam nele. O garoto parou junto a um poste e ficou observando a cena, calmo, tranquilo, talvez incrédulo com o que acontecia. Sentou-se junto a um banco de espera frente a uma banca de revistas e novamente as pessoas se afastaram. Ele tirou do bolso, colocou um guardanapo de papel sobre o banco, abriu um pacote de biscoitos água e sal, espalhou ali, alguns ficaram sobre o banco infecto, e ali quietinho, de costa para todas as pessoas, ele comia lentamente, e de quando em vez bebias água de uma garrafinha, provável com água de torneira. Entrei na banca de revistas, e percebi como as pessoas se entreolhavam com reprovação a minha pessoa, inclusive a atendente da banca. Comprei o jornal e sai, afastando-me dali e questionando: as pessoas estão “paranóicas” com as outras que estejam necessitadas de alimento, cuidados, tratamento? E, não estão assustadas com toda a “máquina “ que envolve crianças e adolescentes, colocando-os na perdição e abandono, para se tornarem mais “ricos e poderosos”, com dinheiro adquirido de forma duvidosa, com aparências falsas e hipócritas, em que usam “brechas de lei” para se garantirem nos desvios sociais, e continuarem a fazer as vítimas inocentes, que sem ter acolhida de ninguém acabarão cada vez mais afundadas na lama de uma sociedade tão cruel que até infecta o ar que todos respiram. A tal ponto, que até se opõem a quem quer ajudar sem pré-julgar.
Nossa pesquisa hoje tem a ver com esta introdução, é sobre a vida das pessoas que vivem na mendicância, aquelas pessoas invisíveis que confundimos com as pedras das calçadas, que fazem parte da escultura viva das grandes cidades, e que comprovam a miséria humana, que nada faz pelo próximo, e só enxergam até onde a ponta do nariz delas alcança. E, nesta pesquisa compreenderemos que dependendo da cultura religiosos se purificam ao pedir esmolas, e também é de pedir dinheiro que as religiões e entidades filantrópicas vivem, sustentam as estruturas, e nem por isto são discriminadas. Também nestes meios, há quem desvie, haja de forma ilegal, engane as outras pessoas na sua boa fé, e não cumpra com o que se compromete, ou seja, onde houver seres humanos, haverá as mazelas da humanidade.
A historia de homens ex-moradores de rua ajudando a recuperar outros é emocionante, e, saber o que há de leis, e entidades que buscam recuperá-los, além dos estudos sócio-políticos-jurídicos, são esclarecedores e surpreendem. Sim, é surpreendente pensar que também que as pessoas que são moradoras de rua, abandonadas a própria sorte, também são contribuidoras para uma micro-economia, ao consumirem seus pacotinhos de biscoitos, refrigerantes, pão e leite, prato comercial que é divido entre muitos, também contribuem com impostos, e movimentam os empregos na sociedade.
É triste, sem dúvida, ver as massas humanas, jogadas nas calçadas, sem crer num futuro, numa recuperação de doença, ou conviver na família que os abandonou, mas é mais triste é saber como chegaram lá no fundo do poço, onde as pessoas “de bem” os confundem com os corvos, cujos é que deveriam comer os restos dos desonestos, omissos e hipócritas sociais.
Estamos em fase de mudanças, os OBJETIVOS DO MILENIO já deveriam estar sendo quase alcançados, talvez, assim não o seja porque ainda falta o principal ingrediente: o da humanização social, de homens e de mulheres.
Esperamos que aprecie esta pesquisa nesta edição, receba nosso fraterno abraço,
Elisabeth Mariano
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A mendicância de cada dia nas grandes cidades.Baixe o arquivo da aula em formato Adobe PDF (*.PDF). |