Elisabeth Mariano Apresenta


Edição nº 13 - de 15 de Fevereiro de 2003 a 14 de Março de 2003

Olá Leitores!

Que alegria estar com você aqui nesta edição tão festiva para todos nós e para as entidades amigas, que tanto nos prestigiam, apóiam e incentivam para a nossa jornada.

Como estamos comemorando em 8 de março, o Dia Internacional da Mulher, data estabelecida pela ONU – Organização das Nações Unidas, pensamos em prestar mais um serviço às mulheres e seus familiares com uma pesquisa na área de saúde, sobre o tema obesidade.

Inicialmente, permitam-nos recordar-lhes que a Constituição Brasileira no Artigo 5º e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, no artigo 2º, determinam:

“Todas as pessoas são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza...”

Então, qual é a nossa atitude quando encontramos pessoas obesas; será que elas têm a mesma condição de igualdade e acesso mediante as suas diferenças? Estão os teatros, cinemas, conduções, aeroportos, restaurantes, escolas adaptadas para acomodar as pessoas obesas, em cadeiras que lhes permitam o conforto e segurança ao se sentarem? E nós sabemos acompanhá-las no ritmo de sua marcha, durante uma caminhada? Como procedemos no caso de uma pessoa obesa tropece e caia? Os pronto-socorros estão equipados para atendê-las?

As escolas, desde o ensino básico, estão ensinando as crianças a tratarem de modo adequado, sem preconceitos, as pessoas obesas? As empresas estão dando oportunidade de trabalho para elas? Quando elas estão presentes em nossos momentos de divertimento, trabalho ou estudo nós agimos do mesmo modo com elas, ao tratar com as outras pessoas presentes?

É pensando nos direitos humanos destas pessoas, que ainda não encontraram em todos os segmentos da sociedade o tratamento de igualdade e respeito as suas diferenças que pesquisamos sobre a obesidade.

Encerramos prestando nossa homenagem a todas as mulheres, e em especialmente neste artigo, às obesas, às mães de filhos obesos, para que tenham sempre a alegria de viver e de acreditar no seu direito de ser feliz.

E, estendemos a nossa homenagem às equipes multidisciplinares que cuidam da saúde, beleza e bem estar desta grande parte da população mundial.

Esperamos que você aprecie as reportagens: “Como a obesidade deve ser tratada?” e “A endocrinologia e a cirurgia plástica no tratamento da obesidade”.

Com carinho, abraço de Elisabeth Mariano.

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COMO A OBESIDADE DEVE SER TRATADA?

Pesquisas recentes revelam que a obesidade é um dos piores problemas de saúde que a humanidade enfrenta atualmente, e que o maior número de pessoas afetadas são as mulheres. Diante deste fato, pesquisamos junto a algumas especialidades médicas quais as principais origens da obesidade e se ela tem como base a infância. Assim sendo, qual é o papel relevante da mãe ou dos profissionais que se acercam no atendimento aos bebês, desde a tenra idade. Médicos ligados à obstetrícia informam que um bom pré-natal ajuda muito o desenvolvimento natural do bebê, além da importância concedida à amamentação infantil nos primeiros meses. Pediatras informam que dificilmente um bebê, ou uma criança na primeira infância será obeso, por questões de hereditariedade, exceto no que se refere a obesidade mórbida, e segundo a maioria, tudo se deve ao erro alimentar, que descuida das questões nutricionais adequadas. Assim como, profissionais da área de endocrinologia e cirurgia plástica concordam e opinam sobre o tema e suas especialidades médicas.

Por tal motivo, buscando orientar nossas leitoras e leitores quanto a importância da nutrição na saúde e qualidade de vida de seus filhos, evitando que no futuro padeçam de todas as conseqüências da obesidade, entrevistamos inicialmente o Dr. Ary Lopes Cardoso – responsável do Grupo de Nutrição do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP; Presidente do Departamento de Nutrição da Sociedade de Pediatria de S. Paulo; membro do Comitê Científico do Departamento de Nutrição da Sociedade Brasileira de Pediatria.

A obesidade começa na infância?

Pesquisas recentes vêm dando conta do crescente número de obesos no planeta. Em países desenvolvidos, a obesidade, e mais especificamente a obesidade na infância, hoje se tornou um grave problema de saúde pública. Ao lado do desenvolvimento tecnológico, do domínio terapêutico de uma série de doenças que antes eram fatais em curto prazo, o grande número de vacinas que tem evitado doenças antigamente muito graves, tudo isso contribuindo para o prolongamento da vida do homem, vê-se uma nuvem sombria pairando ao nosso lado..... a obesidade e suas complicações : diabetes, hipercolesterolemia, doença coronariana, hipertensão. Certamente o homem vai morrer mais cedo.

Esse problema deve ser encarado pelos Pediatras uma vez que a abordagem da obesidade na infância poderá evitar que na vida adulta essa criança carregue essa doença e todas as suas conseqüências.

Quais os fatores desencadeantes da obesidade infantil?

Dr. Ary – Podemos destacar 5 fatores absolutamente ligados como responsáveis pela obesidade:

a - indisciplina alimentar – ambiente pouco tranqüilo, forçar, insistir, brincar, televisão ligada para distrair, comer andando, esses são alguns dos grandes problemas que cercam a criança quando começa a “diminuir” fisiologicamente o seu apetite. A criança nessa idade (por volta dos 2 anos) não é boba e acaba dando um verdadeiro “nó” na família. Ou a mãe começa a dar “cafezinhos” a cada meia hora, pois ela não quis comer (então após o horário do almoço, corre para fazer um sanduíche de alguma coisa, e como ainda ela não aceita, a mãe vai fazer um suco de outra coisa, e assim por diante). A mãe não percebe que de um pedacinho e outro ela enche a barriga. A outra saída da criança é tomar mais leite... e chega a 4 ou mais mamadeira por dia. A mãe não percebe que assim ela preenche as necessidades diárias, ganha peso e altura, (apesar de estar com uma dieta deficiente em alguns nutrientes, como pôr exemplo, Ferro). Solução para este problema... literalmente “queimar as mamadeiras”. Isto vai dar um espaço para comer comida e ter mais disciplina. Lembrar que existe hora para comer e hora para não comer.

b - baixa atividade física – este certamente é o maior problema da humanidade em termos de fator desencadeante da obesidade. Isto vale para todos os seres humanos, e também para crianças. Ninguém mais anda...ninguém leva quintal, não se brinca de correr... a vida está muito fácil e muito preguiçosa. É lógico que tudo isso vale para as crianças que vivem em grandes cidades, com os seus perigos e as suas dificuldades em relação à liberdade.

c - permissividade dos pais em relação aos limites . A disciplina é uma tarefa muito difícil para os pais nos dias atuais. A superproteção materna e a pouca atenção dos pais para o problema obesidade é o perfil mais constantemente encontrado nos pais atualmente.

d - dificuldades sociais que impedem muitas vezes a família de fazer uso adequado do dinheiro, no sentido de aprimorarem as suas compras (desviam tudo para as comidas que engordam). Daí termos um grande contingente de famílias obesas, mesmo com baixo rendimento mensal.

e - fatores psicológicos, que certamente estão sempre envolvidos nas situações de dificuldade de aceitação de imagem corporal, satisfação alimentar, preguiça, dificuldade de imposição de limites, etc..

O que deve ser observado quanto ao desenvolvimento infantil nos primeiros anos de vida?

Dr. Ary – A criança normal tem em média um ganho de 7 kg no primeiro ano de vida. No segundo ano engorda mais 3 kg, no terceiro cerca de 2 kg e do quarto ano em diante, até chegar à puberdade, vai ganhando uma média de 1,5 a 2 kg por ano. Estes dados são muito importantes, na medida em que os pais precisam saber que o apetite do seu filho deve naturalmente diminuir progressivamente no decorrer dos primeiros anos de vida. Isso acontece porque as necessidades do organismo são menores, na medida em que o estirão do primeiro ano termina. Assim, como a imagem que os pais têm, que é a do nenê que come a cada 3 ou 4 horas, fica difícil aceitar que já no meio do segundo ano de vida a criança começa a “criar caso” em todas as refeições, exigindo um desgaste enorme dos pais. O que precisa ser entendido é que isso é NORMAL. Gosto de dizer que se a criança aos 2 anos só come dia sim, dia não, ela é absolutamente normal. O que me preocupa é, por exemplo, o irmão que aos 4 anos ainda é considerado um “bom prato” (ele está junto da mãe e nota-se que já esboça sinais de obesidade). Digo aos pais..."graças a Deus, você tem um filho normal... mas o mais velho me preocupa pois ele já está na fase de comer um dia sim e três não". Afinal de contas ele tem 4 anos e deve ganhar apenas 1,5 a 2 kg no ano, que é 1/3 a ¼ daquilo que havia ganho no primeiro ano. Isto é, o seu apetite deveria acompanhar esse ritmo e ele não deveria estar sendo rotulado de “bom prato”.

São apenas as mães responsáveis pela obesidade de seus filhos?

Dr. Ary – Costumo dizer em minhas aulas, aos alunos de Pediatria, que cabe ao profissional da Medicina orientar a mãe sobre o desenvolvimento normal de seus filhos. Também cabe a ele chamar a atenção quando a criança começa a mostrar sinais ou tendências à obesidade. Isso tem que ser discutido com os pais (pai e mãe) de maneira responsável, em qualquer idade. Geralmente isso pode ser detectado já nos dois primeiros anos de vida, e não deve ser considerado como uma “coisa pequena”.

O que mais costuma conversar com os pais?

Dr. Ary – Costumo orientar os pais com 3 dogmas essenciais para serem e tornarem seus filhos mais felizes:

1 – não comparar uma criança com outra. Cada criança é um ser e uma identidade única.

2 – usem de bom senso em todas as situações da vida, e nas que envolvam decisões sobre os filhos.

3 – façam seus filhos morarem na casa de vocês. Isto significa que todos os sonhos que vocês, como casal, tiveram em relação a seus filhos serão trabalhados e discutidos no seu lar. Assumam atitude de responsabilidade sobre os seus filhos. Discutam as dúvidas entre vocês e estabeleçam os limites diariamente de maneira amorosa e firme. Isso vai permitir que os seus filhos cresçam mais seguros e o casal certamente vai se solidificando em seu amor.


A ENDOCRINOLOGIA E A CIRURGIA PLÁSTICA NO TRATAMENTO DA OBESIDADE

Complementando nossa pesquisa sobre a obesidade entrevistamos a Dra. Fernanda Barbosa De Ninno, Endocrinologista com Mestrado pela Escola Paulista de Medicina (UNIFESP) e o Dr. Maurício Castello Domingues que é Cirurgião Plástico; Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, e Titular do Departamento de Cirurgia Plástica Reparadora do Hospital A.C. Camargo (Hospital do Câncer-SP). Acreditamos que com estas informações forneceremos uma visão panorâmica das origens e da multidisciplinaridade nos tratamentos da obesidade.


É possível a obesidade ser de origem genética, hereditária, ou é provocada por erro alimentar?

A Obesidade é uma patologia multi-fatorial. Foram detectados genes, maior parte desses estudos em animais que comprovaram que familiares até terceira geração obesos. Em humanos nenhum gene é isoladamente responsável por um indivíduo obeso.

Na infância, os hábitos alimentares da família errôneos, a pouca prática de atividade física (sedentarismo) e os alimentos “ fast-food” altamente calóricos com certeza têm um papel muito importante no aumento da obesidade infantil! Causas endócrinas são um pouco mais freqüentes que no adulto (até 10% dos casos).

Atualmente, há casos de meninas com 10 anos de idade que engravidam, as causas são alterações hormonais femininas, ou estão iniciando mais cedo o processo de ovulação, e isto pode provocar a obesidade na pré-adolescência?

A puberdade precoce em mulheres é considerada abaixo de 8 anos de idade. Se ocorrer desenvolvimento da genitália externa e interna feminina e menstruação com ciclos ovulatórios, elas podem engravidar precocemente mas isto não está diretamente relacionado à paciente se tornar obesa e sim fatores pessoais, ambientais etc...

O uso de contraceptivos também pode ser responsável pela obesidade feminina?

Os contraceptivos de última geração têm doses maiores de hormônio sexual feminino principalmente a progesterona. Esta tem um efeito de retenção líquida, alteração ao fluxo circulatório periférico e metabolismo lipídico e, portanto, pode ocasionar ganho de peso, mas isso é individual e costuma ser reversível.

Os distúrbios de tireóide, comuns na fase climatérica e na menopausa, são os maiores causadores da obesidade da mulher madura?

Não, do mesmo modo que o indivíduo se torna obeso quando tem mantido balanço calórico positivo ou seja consome mais calorias do que gasta, também isso acontece no climatério e na menopausa. Os distúrbios tiroideanos têm uma maior prevalência dos 25 a 45 anos que coincide no final dessa fase, mas as alterações tiroideanas que levariam a um ganho de peso são hipotiroidismo, principalmente as custas de retenção hídrica e alterações metabólicas, mas de forma leve, moderada e reversível após o tratamento.

Há em sua especialidade interação multidisciplinar com profissionais das áreas de psicologia, nutrição, educação física, fisioterapia, educação artística, cirurgia plástica, para os tratamentos das mulheres obesas?

Sim, e é extremamente importante que o(a) paciente seja seguido(a) por uma equipe multidisciplinar, uma vez que as causas são várias e associadas e, principalmente a manutenção, além do que a perda de peso ideal é muito difícil.

Quais as dificuldades nos casos cirúrgicos, e há necessidade de cirurgia plástica reparadora nas pessoas obesas?

A cirurgia reparadora nas pessoas obesas visa a retirada dos excessos de pele decorrentes da perda de peso, pois estes pacientes sofrem do “ efeito sanfona”, ou seja, da obesidade seguida do emagrecimento apresentam grandes sobras cutâneas, principalmente a nível de abdome inferior (“abdome em avental”), coxas, região mamaria e braços.

O objetivo da cirurgia plástica é retirar os excessos e permitir o retorno definitivo destes pacientes ao convívio social normal.

As dificuldades cirúrgicas estão presentes na adequada avaliação pré-operatória destes pacientes. Eles, pela perda de peso excessiva, estão sujeitos a distúrbios metabólicos na extensão do tempo cirúrgico com necessidade algumas vezes de reposição sanguínea, e no acompanhamento pós-operatório rigoroso para proporcionarmos um bom resultado estético final.