Elisabeth Mariano Apresenta


Edição nº 24 - de 15 de Janeiro de 2004 a 14 de Fevereiro de 2004

Olá Leitores!

É uma benção divina e uma grande alegria iniciar este ano de 2004, indo ao seu encontro com mais esta edição.

Desta vez trazemos apenas uma reportagem sobre a "Imagem das Pessoas Obesas", retirada de uma participação que fizemos em evento da ABPVS, em São Paulo.

Esperamos que estas reflexões possam ser úteis para quem é, está, ou conhece alguém, com peso acima das tabelas normais. Buscar o equilíbrio da saúde e diminuir os riscos de morbidade é algo que interessa a todas as pessoas, obesas ou não.

Porém tudo fica mais fácil quando aliado a tudo isto, possa-se viver alegre e participante na sociedade. Espero que você concorde. Receba um abraço fraternal de Elisabeth Mariano.

Conheça o Currículo de Elisabeth Mariano.

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A IMAGEM DAS PESSOAS OBESAS

Durante a "Semana de Estudos sobre a Obesidade" promovida pela ABPVS (*1), em São Paulo (*2), tive a honra de participar em meio à ilustres conferencistas (*3), com o tema: "O tratamento e as considerações da mídia sobre a imagem das pessoas obesas".

De início deixei claro que seria um colóquio informal, mas que procuraria obter a participação de todos, confirmando o que sabiam ou não sobre o que seria questionado, ao que o atento auditório concordou.

Recordei-lhes que por volta de 1985 tive a oportunidade de assistir uma apresentação de jazz e de "yoga artística" feita por mulheres obesas, alunas da Academia Ala Szermann, ao que fiquei encantada. Perguntei-lhes se conheciam este trabalho ou algo semelhante, obtendo resposta negativa. Contei-lhes de Duda, uma amiga pedagoga que dança, nada, faz ginástica, dirige carro e alegra crianças em shows infantis, enfim, é uma obesa jovem e feliz.

Relatei que em minha família as mulheres são obesas, e que por intermédio de uma tia, 4 anos mais velha que eu, quando ainda era adolescente, tomei o conhecimento dos cuidados e hábitos alimentares, ressaltando a importância desses conhecimentos em minha vida pessoal.

Fiz considerações ao Artigo 5º da Constituição e que ela rege pela obediência aos Direitos Humanos. Ou seja, somos todos iguais, sem distinção de etnia, raça, filosofia, credo, partido, sexo ou opção sexual, questões econômicas, procedência religiosa ou qualquer outra característica diferente ou diversa, assim, ninguém pode ser discriminado ou preconceituado, incluindo-se aí as pessoas portadoras de obesidade.

Referi-me ao Conselho Nacional, Estadual e Municipal de Direitos Humanos, e suas políticas públicas e que não havia encontrado algo em relação ao porte físico diferenciado, quer seja em altura ou peso. Deste modo, teatralizava a situação e questionava o que sabiam a respeito sobre: transportes públicos (há reservas para idosos, gestantes e com deficiência de locomoção), porém, não para pessoas obesas. Concordância total, inclusive de participantes de outros Estados brasileiros. Daí, foi extendida a pergunta para diversão pública (teatros, shows, cinemas, eventos (jornadas, simpósios, congressos) e de aglomeração (showmício etc)). Então, neste caso, perguntei-lhes, o direito de ir e vir (passar numa porta, catraca, ocupar um assento) não ocorria para as pessoas obesas?

Retomei quanto as escolas públicas e privadas que também não oferecem adequação, ocorrendo isto em restaurantes, elevadores, a própria arquitetura dos imóveis e de móveis os esquecem, parece que as pessoas obesas não são consumidoras em potencial. E falta adaptação de carros, motos e bicicletas.

As confecções adaptam-se para o segmento dos obesos, porém, o filão do negócio, não se estende para calçados (exceto se for sob medida).

E a imagem das pessoas obesas na mídia? Pedi-lhes para citarem nomes com sucesso de nossa sociedade, e perguntava-lhes, qual pessoa, homem ou mulher, você recordava como apresentador ou apresentadora de televisão? Humorista? Cantora? Músico(a)? Conjunto musical? E na propaganda, qual comercial? E o quê para eles se destina? Foi uníssono a citação de um grupo de irmãos obesos em um comercial; perguntei-lhes sobre qual produto? Medicamento para mal-estar porque comem muito. Então, isto é um estereótipo da obesidade, há preconceitos ou não, além da oportunidade de fazer o comercial? Continuei, qual a imagem dos obesos em propagandas de outdoor, em revistas, notícias e reportagens, e em destaque por liderança? Como empresário(a)? Continuei a perguntar, na educação há personagens infantis obesos, e o que fazem? E na arte, há poesias? Há Romances? Há anedotas? Há músicas? E o estereótipo "homem com barriga acentuada é bem sucedido, está rico, e a mulher é descuidada"? Por que tudo isto ocorre? Porque o silêncio? O silêncio é a omissão ou a confirmação - afirmação de preconceito ou discriminação pela diferença.

Qual é o papel da pessoa obesa para lutar por estas conquistas? Como ela marca a sua presença? Como exige seus direitos, ou não exige?

Eles se mostram alegres, participantes, cantam, dançam, manifestam-se? Como proceder para conciliar a conquista de nossos direitos com o dever de buscar o respeito às nossas diferenças? Primeiro, precisa se falar abertamente, em grupos, quais as dificuldades, avanços, objetivos. Depois exigir, solicitar, para que se criem leis que tragam o auxílio esperado como cidadãos, afinal é uma fatia imensa da população que vota, consome e vive, precisa ser aceita e respeitada por todas as pessoas, em qualquer lugar, nível ou situação.

Buscar participar de movimentos, liderá-los participar em áreas que levem à exposição pública, mostrar-se sem temor, exibir-se livremente de auto-preconceitos, ou seja, estimar-se, elogiar-se, premiar-se, colocar-se no pedestal para a visibilidade pública, buscar uma vida alegre, plena e feliz. A criatividade é a grande aliada para estas conquistas, ela marca a nossa presença, destaca-nos.

Então, perguntei-lhes: "vocês falaram com suas células hoje, ao se levantarem? Agradeceram para elas a sua saúde? E o que elas fazem por nossos órgãos, sentidos, beleza? E a alegria de ser útil para a sociedade, de onde vem? Do espírito alegre, grato e feliz. Após esta reflexão, disse-lhes, estamos tanto tempo parados, sentados, que tal se movimentar? Uma simples música, envolve-nos a todos, integra-nos, faz o sangue circular, queima nossas calorias e alegra nosso espírito.

Então convidei aos presentes para um pequeno exercício livre com música, encerrando este agradável colóquio sobre a imagem das pessoas obesas.

Como resultado, os comentários foram favoráveis, tais como: "não havia pensado sobre isto no cotidiano, é real, acontece", "que bom, você usa a biodança e a musicoterapia", "as leis aplicadas para a melhoria da qualidade de vida".

Agradecemos esta oportunidade que a ABPVS nos concedeu, a qual trouxe, também, para nós a felicidade da compreensão humana sobre quem já está obeso, e como pode ser feliz e bem sucedido, recebendo da mídia as considerações e respeito pela sua imagem.

(*1) ABPVS - Associação Brasileira de Profissionais de Vigilância Sanitária - Presidenta: Eliana Silva Moraes.

(*2) evento ocorrido entre 18 e 21 de novembro de 2003, na sede da ABPVS, São Paulo.

(*3) Temas abordados e conferencistas:

- Tendências e perspectivas para o controle da obesidade - Dra. Vanderli F. Marchiori (nutricionista e diretora da APAN);

- O papel da família na educação alimentar - Dr. Emane Silveira Rosas (presidente do Sindicato dos Nutricionistas do Estado de São Paulo);

- Direito do obeso - Dr. José Carlos Francisco (juiz federal);

- Aspectos médicos da obesidade - Dr. Paulo Lotufo (superintendente do HU/USP);

- Direito do Consumidor em ter acesso a produtos de qualidade - Dr. João Lopes Guimarães Júnior (promotor de Justiça do Consumidor);

- Livre iniciativa da indústria e do comércio varejista no setor de alimentos - políticas de controle e desenvolvimento - Dra. Beatriz Del Fiori (Mac Donald's);

- Ações de Vigilância Sanitária - Dra. Ana Beatriz Vasconcelos (gerente substituta de alimentos da ANVISA);

- Aspectos psicológicos da obesidade - Dr. Adriano Segal (Departamento de Psiquiatria e Transtornos Alimentares da ABESO);

- O tratamento e as considerações da mídia sobre a imagem dos obesos - Elisabeth Mariano (Diretora do ESPAÇO MULHER).