Jornal Espaço Mulher


Edição nº 17 - de 15 de Junho de 2003 a 14 de Julho de 2004

Olá Leitores!

Foram muitas as correspondências recebidas, o que para nós foi uma grande alegria. Também ficamos honradas com a mensagem pessoal da Deputada Federal Iara Bernardi e orgulhosas em tê-la como representante do Brasil junto às mulheres parlamentares dos países de Língua Portuguesa.

Como novidade trazemos uma pesquisa do mestre e doutorando João Barroso, que valoriza as pessoas empreendedoras. Para nós isto é importante, pois, atualmente, as mulheres estão em grande número fazendo empreendimentos com inovações, em vários setores da economia, embora a falta de incentivos e reconhecimento.

Além do que é óbvio, muitas vezes, precisam enfrentar preconceitos, discriminações, desrespeito aos direitos autorais e intelectuais e concorrência desleal.

Trazemos notícias de eventos e lançamentos de livros. Continuamos na expectativa de sermos úteis com nossas informações.

Aguardamos notícias, sugestões e críticas.

Abraço de Elisabeth Mariano e equipe ESPAÇO MULHER.

Para informações, críticas, sugestões, envio de notícias, para anunciar, contate-nos.

XIX CONGRESSO BRASILEIRO DE ANÁLISE TRANSACIONAL - CONBRAT

Análise Transacional novos tempos, novas soluções - o desafio da convivência

O CONBRAT é realizado a cada dois anos pela União Nacional de Analistas Transacionais - UNAT / Brasil com o objetivo de promover um espaço de encontro, discussão e crescimento teórico-científico, bem como a divulgação do trabalho realizado pelos analistas transacionais do Brasil e estrangeiros.

No XIX CONBRAT ocorrerão várias atividades dirigidas aos profissionais das áreas de saúde, educação e trabalho. O convidado internacional será Dr. Van Joimes / USA.

O XIX CONBRAT ocorrerá entre 19 e 21 de junho no Hotel Crowne Plaza / SP.

(http://www.unat.org.br)

40° CONGRESSO NACIONAL - ESCOLA DE PAIS NO BRASIL

Em comemoração aos 40 anos de fundação, a Escola de Pais no Brasil, realizará, de 19 a 21 de junho, no Colégio Santa Cruz, o 40° Congresso Nacional, tendo como tema: "A Convivência Familiar e os Ambientes Externos". Estarão presentes notáveis conferencistas, e haverá, também, mesa-redonda, grupos de interesse, painel com debates.

(Fonte: EP - http://www.escoladepais.org.br)

HOBBYART

Feira Internacional das Indústrias e Fornecedores de Produtos para Hobby Criativo, Artes e Artesanato.

No ExpoCenter Norte / SP, de 02 a 06 de junho de 2003.

(Fonte: http://www.hobbyart.com.br)

VIII CONFERÊNCIA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS

Ocorreu entre 11 e 13 de junho, no Auditório Nereu Ramos / Câmara dos deputados, em Brasília.

I ENCONTRO DE MULHERES PARLAMENTARES DOS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA

Em Brasília, no dia 10 de junho, a Deputada Federal Iara Bernardi, participou do I Encontro de Mulheres Parlamentares dos Países de Língua Portuguesa. O evento objetivou incentivar a participação das mulheres mais ativamente da vida política. Participaram cerca de 150 mulheres dos países de Língua Portuguesa.

O evento foi promovido em parceria pelas comissões de Relações Exteriores do Congresso Nacional. O Brasil é o país de Língua Portuguesa com o menor índice de mulheres atuando nos Poderes Legislativo e Executivo. Em Cabo Verde (África), por exemplo 23% dos ministérios são chefiados por mulheres, e a representação feminina no Parlamento é de 14%. Enquanto no Brasil a participação da mulher nos ministérios é de 12% e no Senado federal a participação é de 11%.

Além do Brasil, os outros países integrantes da CPLP são: Portugal, Cabo Verde, Angola, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor Leste, Moçambique.

(Fonte: Assessora de Imprensa: Márcia Dias)

LANÇAMENTO DO 2° RELATÓRIO NACIONAL SOBRE OS DIREITOS HUMANOS NO BRASIL

No dia 26 de maio, ,na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, foi realizado o Lançamento do "Segundo Relatório Nacional sobre os Direitos Humanos no Brasil". O 2° RNDH traça um mapa da situação dos Direitos Humanos, em todos os Estados do Brasil, analisando o tráfico de crianças, a violência sexual, o trabalho escravo e a discriminação racial. O 2° RNDH, cobre os fatos que ocorreram dos anos 2000 a 2002, foi realizado como iniciativa independente da Comissão Teotônio Vilela de Direitos Humanos, patrocinado pela Secretaria Especial da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). Foram colaboradores com informações e dados para o 2° RNDH, 105 Organizações da Sociedade Civil, 109 Organizações Governamentais, Conselhos, Comissões e Ouvidorias, dos vários estados brasileiros e do Distrito Federal.

(Fonte: USP)

HILLARY CLINTON LANÇOU O LIVRO "LIVING HISTORY"

Sucesso absoluto de vendagem o livro de autoria de Hillary Clinton, que vendeu 40 mil exemplares em 24 horas, tornando-se o primeiro lugar na lista de best sellers. Segundo informações dos críticos americanos há um grande interesse pelos detalhes revelados pela ex-primeira dama sobre o escândalo Bill Clinton / Mônica Lewinski.

PESQUISA

QUESTÕES E REFLEXÕES SOBRE O EMPREENDEDOR

Prof. João R. Barroso, Ph.D. Candidate

Diretor da Unisa Business School

Herói que trilhou seu próprio caminho, o empreendedor desfila nas capas de revistas, na páginas da Internet, em histórias heróicas da imaginação popular. Quase sempre de origem humilde ele sobe na vida, mesmo que ande desconcertado entre os ricos e milionários por tradição. Curiosos, e às vezes invejosos, professores e pesquisadores buscam respostas para entender este fascinante personagem do capitalismo moderno. Este texto analisa e critica algumas das principais obras sobre o assunto esperando contribuir para com um melhor entendimento do campo.

Jean Baptiste Say (1803) foi um dos primeiros modernos a chamar a atenção para o empreendedor ao afirmar que "um país bem estocado de comerciantes, fabricantes e agricultores inteligentes tem maior potencial de atingir prosperidade do que os países que se devotam basicamente à busca das artes e das ciências". Por outro lado, Say não definiu bem o perfil de quem seria empreendedor. Apenas se limitou a dizer que "os empreendedores organizam e canalizam os fatores de produção de tal modo a satisfazer as necessidades humanas". Assim, Say deixou passar a oportunidade de diferenciar o empresário do empreendedor assim como de nos dizer como se tornar um deles.

Joseph Schumpeter foi pontual em apontar os motivos que levam alguém a se tornar empreendedor. Segundo Schumpeter (1934) o homem torna-se empreendedor por um ou mais dos três: a) para construir seu próprio reino, b) para exercer sua inocência e c) pelo prazer de comandar. Schumpeter1 também não deixou claro quem seriam as pessoas com potencial empreendedor. Seu fascínio com o empreendedor de sucesso criou o estereótipo, muito em voga atualmente, do empreendedor como herói do capitalismo moderno.

Mark Casson (1996), seguindo Say, critica os economistas clássicos por despersonalizarem a economia, retirando o papel do empreendedor na geração do lucro. Casson2 sustenta que "o empreendedor está no centro do processo de geração de lucro por ser ele alguém especializado em tomar decisões de julgamento sobre a coordenação de recursos escassos" (1982: 23). Segundo Casson, o empreendedor deve, pelo menos temporariamente, monopolizar e proteger a informação, coordenar os recursos escassos e tomar decisões de julgamento que irão definir o destino do seu negócio. Para isso o empreendedor tem que ter três atributos: acesso privilegiado à informação, capacidade de julgamento superior da situação e auto-confiança. Em seu célebre e longo estudo Casson distrai-se e não nos deixa dicas do perfil psicológico do empreendedor ainda não revelado. Nem nos informa ele das origens das emoções que mantêm o empreendedor vivo e ativo. Por outro lado, valiosamente Casson enriquece seus capítulos com os pensamentos que preenchem as emoções ocultas do empreendedor. Os pensamentos do empreendedor, descritos por Casson, podem ser classificados em três categorias: 1) gravitam em torno da ansiedade por realizar, 2) são atormentados pela desconfiança nos outros e 3) entram em êxtase, quase secreto, quando uma transação lucrativa é realizada.

O esforço de reconstrução da Europa após 1945 e, praticamente ao mesmo tempo, o surgimento do Terceiro Mundo e a riqueza americana da década de cinquenta levou, sobretudo psicólogos, a buscarem respostas para o subdesenvolvimento da América Latina. O foco destes estudos era a psicologia nacional, ou seja, entender até que ponto as características psicológicas de um povo impede ou favorece o desenvolvimento econômico. Três teóricos influentes, Hagen (1962), Cochran (1964) e McClelland (1967), todos ecoando a voz de Talcott Parsons (1932), irão argumentar que é a cultura nacional a variável de maior peso contra o surgimento de empreendedores capazes de levar um país à prosperidade.

Para Hagen (1962) existe relação direta entre "a personalidade criativa" e a inovação tecnológica. Segundo ele "o sucesso empresarial depende basicamente do indivíduo garantido que sua sociedade lhe pague as devidas recompensas por suas realizações". O empreendedor segundo Hagen "é um criativo resolvedor de problemas interessado em coisas práticas no âmbito tecnológico e guiado por um senso de realização" (Hagen, 1962). Hagen não nos deixou maiores informações sobre como identificar os indivíduos realmente criativos e nem como instigar a criatividade nas pessoas. Além do mais não deixou pesquisa que realmente demonstrasse a correlação entre criatividade e sucesso empresarial.

Para Cochran (1964) é a personalidade do indivíduo o que determina o sucesso do empreendimento. Aficcionado por entender a enorme diferença entre a riqueza americana e a pobreza brasileira, Cochran fez um estudo da personalidade de alunos de escolas de ensino médio nos Estados Unidos e no Brasil e concluiu que "os valores culturais afetam a estrutura da sociedade" levando, portanto, o indivíduo a responder "criativamente como nos Estados Unidos ou abortivamente como em grande parte da América Latina" (Cochran, 1964). Para Cochran o sucesso empresarial é afetado por três variáveis independentes: 1) a atitude do indivíduo em relação à sua ocupação (valores como trabalhar duro, dedicar-se, planejar cautelosamente); 2) as recompensas dadas a ele pelos grupos de sanções (valorização da riqueza como legítima) e 3) quesitos operacionais do trabalho (capacidade para executar a missão). O trabalho de Cochran, assim como toda a literatura culturalista têm sido arduamente criticados por autores do Brasil e da América Latina.

McClelland (1967) argumenta que os indivíduos são guiados por "necessidades psicológicas por realizações". McClelland, em Achieving Society (1967) afirma que a necessidade individual por realizações reflete as "expectativas normativas de uma sociedade", ou seja, cabe à sociedade fomentar nas pessoas a vontade de vencer. Para McClelland o empreendedorismo é uma qualidade pessoal, muitas vezes reforçada por traumas familiares da infância e que afloram na vida adulta através da necessidade de vencer como forma de recompensa por perdas emocionais anteriores. O argumento parece bastante razoável quando se trata do sucesso mas não explica os "traumatizados" fracassados e nem os bem sucedidos felizes. Ou seja, é possível que os traumas de infância tanto levem ao sucesso quanto ao fracasso e, talvez, sequer levem o indivíduo ao empreendedorismo.

Desta amostra de alguns bons teóricos sobre o assunto ficam-nos sem respostas questões importantes: i) o que faz com que um indivíduo torne-se empreendedor voraz; ii) que metodologia poderíamos usar para descobrirmos, a priori, quem seriam os futuros empreendedores bem sucedidos; iii) uma vez empreendedor, que técnicas adotar para se chegar ao sucesso.

No momento atual, com inúmeras organizações mundo afora fomentando e "formando" empreendedores, vemos o surgimento de inúmeros empreendedores de laboratório, ou seja, pessoas que estudam como suceder - geralmente com instrutores mal sucedidos. Conceitos tais como "incubadora", "perder o medo", "fazer acontecer", "próprio negócio", "livrar-se do patrão", etc., tornam-se populares, constituindo-se na base de uma nova indústria, a indústria da formação de empreendedores. Mesmo assim, os índices de fracasso não diminuem. Por décadas o Sebrae divulga que 95% dos novos empreendimentos fracassam nos três primeiros anos de operação.

Dúvidas começam a surgir quando o país que mais instiga a iniciativa pessoal, os Estados Unidos, entram em crise apesar de seus milhares de empreendedores. Dúvidas ainda maiores nos incomodam quando o país mais empreendedor do mundo, o Brasil (segundo o Sebrae), mantém-se em estado de estagnação econômica por décadas. Resta-nos pensar sobre que fatores, emocionais, psicológicos ou outros, podem nos tirar da crise. Não devemos descartar que talvez nem sejam os empreendedores os nossos salvadores. Talvez Hagen, Cochran e McClelland estivessem sofrendo de uma miragem do alto do pódio. Talvez as dicas de Casson sobre a escassez de recursos e monopólio da informação tenham sido em vão. Talvez a visão heróica do empreendedor de Schumpeter não se confirme já que heróis quase sempre surgem quando há um contexto favorável. Estudar as ações de empreendedores, sejam eles de laboratório, do acaso ou de traumatizados da infância é um exercício prazeroso e fascinante pois o capitalismo nos ensinou a admirar os heróis. Mas não sejamos inocentes, até o momento não está claro se o desenvolvimento econômico advém de circunstâncias mundiais, de oportunidades de época ou da habilidade pessoal de indivíduos empreendedores que se jogam contra as dificuldades mesmo quando as circunstâncias parecem de todo desfavoráveis. Mesmo os mais céticos parecem estar sempre prontos a admirar e exaltar o empreendedor, afinal, há algo nestes indivíduos que parece nos dizer que o seu reino não é deste mundo3. A verdade é que muitas questões sobre os empreendedores permanecem obscuras e carentes de pesquisa e respostas passíveis de teste.

BIBLIOGRAFIA

Casson, Mark. (1982) The Entrepreneur: An Economic Theory. Barnes and Noble Books: Totowa, NJ.
Cochran, Thomas C. (1971) "The Entrepreneur in Economic Change" IN: Peter Kilby (ed) (1971) Entrepreneurship and Economic Development. New York: The Free Press.
__________________ (1964) Inner Revolution: Essays on the Social Sciences in History. New York: Harper and Row.
Hagen, E. E. (1962) On the Theory of Social Change: How Economic Growth Begins. Center for International Studies, MIT. Homewood, Ill: Dorsey Press.
McClelland, David C. (1971) "The Achievement Motive in Economic Growth" IN: Peter Kilby (ed) (1971) Entrepreneurship and Economic Development. New York: The Free Press.
__________________ (1967) The Achieving Society. New York: Free Press.
Parsons, Talcott (1932) The Structure of Social Action, Free Press, New York.
Schumpeter, Joseph A. (1961) The Theory of Economic Development: an inquiry into profit, capital, credit, interest, and the business cycle. [translated by Redviers Opie]. New York: Oxford University Press.
__________________ (1996) Ensaios: Empresários, Inovação, Ciclos de Negócio e Evolução do Capitalismo, tradução de Maria Inês Mansinho e Ezequiel de Almeida Pinho, Editora Celta, Oeiras, Portugal.
Say, Jean Baptiste (1803) A Treatise on Political Economy: or, the Production, Distribution and Consumption of Wealth. New York: Augustus M. Kelley, 1964.
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1 Para maiores detalhes sobre vida e obra ver Schumpeter, Ensaios (1996).
2 Não há nenhuma tradução da obra de Mark Casson para o português.
3 A frase bíblica é proposital. Em pesquisa anterior observei a correlação entre o sucesso e a atribuição à benção divina dada por empreendedores bem sucedidos (Tese de Doutorado, Universidade de Pittsburgh).