Jornal da Mulher Brasileira
Edição nº 10 - de 15 de Novembro de 2002 a 14 de Dezembro de 2002
Olá Leitores!
Esta edição festiva, que comemora a valorização das mulheres brasileiras dedicadas a inúmeras profissões, enobrecendo e contribuindo com o nosso país, traz uma mensagem muito valiosa com a veiculação da reportagem de Ana Paula Perón: "É mais fácil cooperar ou competir?".
Quanto mais nos dedicamos às causas e aos movimentos femininos, mais encontramos um trabalho de equipe, em busca da vitória e conquista de oportunidades, e que para "ganhar o jogo" precisa de cooperação e não de competição.
Neste texto de Ana Paula estamos trazendo uma linda mensagem para a reflexão, homenageando as mulheres esportistas amadoras e profissionais, que tanto se exercitam, treinam e se submetem a disciplina do(a) técnico(a) do grupo e as regras do jogo, de modo exemplar. E ao ganharem o jogo sabem respeitar o grupo adversário perdedor. E, também, o grupo não-vitorioso sabe cumprimentar e parabenizar a quem conquista a vitória. Estes gestos vão alem da ética esportiva, são atos de civilidade, saúde mental, emocional e física.
É preciso saber que em cada "jogo da vida" pode-se vencer ou perder "aquela partida", porém, não será isto o alicerce para vangloriar-se ou humilhar aos outros, pois tudo é passageiro e para cada "jogo" é preciso preparar-se sempre e contar com a equipe e a torcida "do contra e a favor".
Ressaltamos, aqui, o slogan da Revista Jogos Cooperativos: "Eu coopero... Tu cooperas... Ele coopera... Nós cooperamos... E o mundo se transforma..."
Receba o abraço de Elisabeth Mariano e equipe do Jornal da Mulher Brasileira.
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É MAIS FÁCIL COOPERAR OU COMPETIR? (*)
Porque as escolhas tendem à Competição?
Será que tem algo a ver com o medo da cumplicidade, própria da Cooperação?
Afinal, na competição ficamos estrategicamente distantes uns dos outros, deixando o contato para ser usado contra o adversário, como uma arma, para impedir que ele conquiste o objetivo, e não como uma possibilidade de sermos "unos" e entregues, mais felizes e inteiros...
Fui jogadora de basquete durante muitos anos... foi um campeonato num clube na minha cidade , onde me fiz essas perguntas mais intensamente, tomando um novo rumo...
Inscrevi-me em um campeonato interno no clube , com times mistos e de diferentes idades. Quase todos os atletas e ex-atletas se conheciam e haviam jogado juntos algumas vezes...
Eu estava muito feliz por compartilhar com meus amigos aquele momento. Uma partida começou e logo vi as pessoas se xingando e brigando... - Credo! Que coisa feia turma... Viemos aqui para brincar!!!
Logo em seguida veio a minha partida, eu estava ansiosa, afinal eu já não jogava há anos...
Uma amiga, que jogava comigo, nos áureos tempos, fez uma cesta de 3 pontos... Mais um ataque e fez outra. Eu corri para abraçá-la, afinal, eram duas cestas de três pontos depois de um ano sem jogar! Na terceira vez em que isso aconteceu, batemos as mãos como era de costume! Foi quando meus amigos disseram: Afinal Paula, para que time você está jogando?
(A garota que jogava no meu time adversário ao meu, naquele dia, mas isto não tinha importância para mim.) Minha "equipe" estava, definitivamente, brava comigo... E eu fiquei ali... pensando no que tinha acontecido... Momentos depois, um rapaz de minha equipe "rouba" a bola de um outro rapaz. Pasmem! Da mesma equipe, só para fazer a cesta. Já viram isto?
Logo pensei - O que significa isto tudo? Que "piração" é esta? Eu só queria me divertir com a turma e brincar. Nada de brigas e xingamentos...
Nunca mais participei do tal campeonato... perdi o "TESÃO" e fui caminhar... caminhar... mas sozinha... Até achar um time legal para jogar junto, jogando um outro jogo onde ninguém sai do jogo e nem rouba a bola para brilhar sozinho.
Agora sinto "TESÃO" de novo, por jogar com uma "galera"...
Continuei jogando esse novo jogo e meus questionamentos continuaram...
Como professora, enfrento diariamente muitos desafios, sendo assim uma vez, sentei numa roda com alunos de 7 e 8 anos, que estavam manifestando um grau de agressividade muito além do que eu considerava aceitável...
Conversamos sobre o que eles gostariam de ter num mundo ideal. As respostas eram mecânicas... PAZ... MENOS VIOLÊNCIA... AMOR... AMIZADE... Enquanto respondiam, alguns alunos se acotovelavam para conseguir um melhor lugar na roda, ou mesmo para "brincar" uns com os outros. Perguntei: - Quem quer Paz bate nos amigos desta forma? - Não, professora, responderam... Logo vi, que a teoria havia sido muito bem ensinada na escola e em casa. Perguntei: - O que é preciso fazer para ter Paz? E eles responderam: - PRECISAMOS RESPEITAR OS AMIGOS, PRECISAMOS OBEDECER A MÃE, PRECISAMOS TRATAR BEM DA NATUREZA. Respostas, certamente, bem decoradas. Alguém me chama chorando e diz: Fulano me bateu, professora... e outro... e mais outro... Eu estava no meio de uma "guerra". Passamos aquele dia conversando com dificuldade. Eu me sentia muito impotente (muitas vezes ainda me sinto) para fazer alguma coisa. Pensei sobre minha missão. Com a maioria dos educadores, estamos em xeque?
Nestas, dentre tantas outras experiências, ficou mais claro, para mim, a importância de se viver cooperativamente no dia-a-dia. A sensação de exclusão é muito dolorosa, e se sentir parte integrante do meio onde vivemos é fundamental para que nos sintamos felizes e inteiros. Sensibilizar as pessoas para uma percepção mais clara dos objetivos dos Jogos Cooperativos, em programas vivenciais, é uma possibilidade bastante interessante e positiva que pode ajudar muito na multiplicação destas idéias ou ideais para uma vida cooperativa. A alfabetização, em Jogos Cooperativos, então, passa a ser um longo caminho a ser percorrido por todos, principalmente na área dos esportes, onde a cultura do vencer / perder é absoluta e intocável. O vencer / vencer não é sequer questionado. É nesta "ignorância" de outras verdades que moram nossos preconceitos mais profundos, que se iniciam, talvez, nas relações familiares. E o esporte tem jogado na contra-mão do jogo da vida... Ou será que não?
Os Jogos Cooperativos possibilitam um maior nível de aceitação entre as pessoas, que passam a valorizar mais os diferentes tipos de relacionamento que tem na vida, responsabilizando-se mais por seus comportamentos e escolhas com maturidade e um posicionamento mais compromissado com as relações. É desejável que possamos estar conscientes deste processo, muito embora eu imagine que esta não é uma condição indispensável. Talvez, jogando, jogando, jogando... possamos aprender.