Jornal da Mulher Brasileira


Edição nº 163 - de 15 de Agosto de 2015 a 14 de Setembro de 2015

Olá Leitoras! Olá Leitores!

E o que todos nós no Brasil temos a ver com isto?

Quem são as mulheres que apregoam no mundo: "As Vidas das Pessoas Negras Importam"

Observar os motivos e comportamentos de outras pessoas no mundo são verdadeiras lições de vida, cidadania e participação politica social, assim, ao refletirmos sobre o slogan "As Vidas das Pessoas Negras Importam", e o que Alicia Garza, Patrisse Cullors e Opal Tometi fizeram para der nova cara ao movimento por direitos civis no país, cuja missão está centrada em: 'o amor é o que vai nos levar a mudar o mundo em que vivemos', é comovedor e serve de estímulo para que se possa fazer campanhas como as delas, aliás elas são poucas, mas que com o uso de mobilização via tecnologia, conseguem alcançar mais resultados, nos tempos atuais.

“Após o assassinato de Walter Scott, um homem negro, por um policial branco na Carolina do Sul (link), a revista norte-americana Time chegou às bancas na segunda semana de abril com uma capa dominada por letras garrafais: “Black Lives Matter” – “As Vidas das Pessoas Negras Importam”, em tradução livre. O slogan #BlackLivesMatter penetrou no vocabulário moderno dos Estados Unidos. É o grito de guerra de um movimento que começou a atrair a atenção do mundo depois de a polícia matar o jovem negro Michael Brown, em Ferguson, Missouri, em julho do ano passado. Mas #BlackLivesMatter começou antes de Ferguson. Quando o ex-vigia George Zimmerman foi inocentado das acusações de homicídio depois de matar o adolescente negro Trayvon Martin, em julho de 2013, Alicia Garza, de Oakland, na Califórnia, expressou sua raiva e tristeza através do Facebook. Garza, 34 anos, é ativista e já se dedicava há anos à luta contra o racismo. Ela havia liderado movimentos ativistas na área da Baía de São Francisco, tanto em esforços para expor e acabar com a violência policial como em ações para garantir transporte público gratuito para jovens. Atualmente, Garza é diretora de projetos especiais da Aliança Nacional de Trabalhadoras Domésticas, onde ela se empenha em proteger os direitos de mulheres negras que trabalham em funções como serviços de limpeza, babá e cuidadora.”

Você poderá acessar a seguir a fonte deste texto, e saber mais desta linda e exemplar atitude, que transformou a realidade de muitas pessoas e motivou muitas outras a participarem, onde a mídia social e o elo principal para que alcançassem melhores resultados.

Receba esta edição do Jornal da Mulher Brasileira, com as pesquisas e notícias que selecionamos para você. E os nossos votos de muito sucesso, e cordial abraço, Elisabeth Mariano e equipe Jornal da Mulher Brasileira.

(Fonte: #BlackLivesMatter: Conheça as mulheres que renovaram luta contra racismo e violência policial nos EUA - Liz Pleasant | YES! Magazine | Oakland - 15/05/2015 - 06h00 - Tradução: Maria Teresa de Souza - Matéria original publicada no site da revista norte-americana YES! Magazine.)
(Fonte: http://operamundi.uol.com.br/conteudo/samuel/40407/%23blacklivesmatter+conheca+as+mulheres+que+renovaram+luta+contra+racismo+e+violencia+policial+nos+eua.shtml)

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Devemos fazer muito mais para que a voz da mulher tenha um peso real na sociedade e na Igreja”, diz o Papa Francisco

A diferença entre o homem e a mulher “não é para competir ou para dominar, mas para que se dê essa reciprocidade necessária para a comunhão e para a geração, à imagem e semelhança de Deus”.

A reportagem é de Jesús Bastante e publicada por Religión Digital, 15-04-2015. A tradução é de André Langer.

“Devemos fazer muito mais em favor da mulher, se queremos dar mais força à reciprocidade entre homens e mulheres. É necessário, de fato, que a mulher não somente seja mais ouvida, mas que a sua voz tenha um peso real, uma autoridade reconhecida, na sociedade e na Igreja”. O Papa Francisco fez um apelo à igualdade de direitos entre homens e mulheres durante a Audiência Geral desta quarta-feira, na qual também arremeteu contra a chamada “teoria do gênero”, que “pretende apagar a diferença sexual, porque já não podem tratar com ela. Sim, corremos o risco de dar um passo atrás”.

Uma multidão de fiéis voltou a reunir-se na Praça de São Pedro: aqueles que falam da diminuição de peregrinos em Roma deveriam olhar a vista. Em sua alocução, Francisco fez referência à leitura do Gênesis sobre a criação do homem e da mulher, à qual dedicará as duas próximas catequeses, ressaltando que “Deus faz o ser humano à sua imagem e semelhança”, apontando que “a diferença sexual está impressa em todas as formas de vida, mas apenas o homem e a mulher são feitos à imagem e semelhança de Deus”.

Uma diferença que “não é por submissão, mas por comunhão”, uma vez que “o ser humano, homem e mulher, vive da reciprocidade, e quando esta não acontece, vêm os problemas”. O Papa perguntou-se o que significa ser homem e mulher, hoje, quando “a cultura contemporânea abriu novos espaços, novas liberdades e nova profundidade para a compreensão desta diferença. Mas também introduziu muitas dúvidas e muito ceticismo”.

“Pergunto-me, por exemplo, se a chamada teoria do gênero não seja expressão de uma frustração e de uma resignação, que visa a cancelar a diferença sexual porque não sabe mais como lidar com ela. Sim, corremos o risco de dar um passo atrás”, apontou o Papa, que destacou que “a eliminação das diferenças é um problema, não a solução”.

“Também o homem e a mulher, como casal, são imagem e semelhança de Deus. A diferença entre homem e mulher não é para a contraposição, ou a subordinação, mas para a comunhão e a geração, sempre à imagem e semelhança de Deus”, disse o Papa, que pediu para não debater sobre este tema como algo secundário. “Os sinais já são preocupantes”.

Diante disso, Francisco assinalou dois aspectos fundamentais. O primeiro, que “sem dúvida que devemos fazer muito mais em favor da mulher, se queremos dar mais força à reciprocidade entre homens e mulheres. É necessário, de fato, que a mulher não somente seja mais ouvida, mas que a sua voz tenha um peso real, uma autoridade reconhecida, na sociedade e na Igreja”. Assim o considerou o próprio Cristo, “em um contexto menos favorável que o nosso”.

“Ainda não entendemos em profundidade quais são as coisas que pode nos dar o gênio feminino, as coisas que a mulher pode dar à sociedade... talvez ver as coisas com outros olhos que completam o pensamento dos homens. É um caminho a percorrer com mais criatividade e audácia.”

Em segundo lugar, o Papa chamou a atenção para “a crise de confiança coletiva em Deus, que nos faz tanto mal”. “Pergunto-me se a crise de confiança coletiva em Deus, que nos faz tanto mal, nos faz adoecer de resignação à incredulidade e ao cinismo, não está ligada também à crise da aliança entre o homem e a mulher. Daqui vem a grande responsabilidade da Igreja, de todos os crentes e, antes de tudo, das famílias crentes, para redescobrir a beleza do desígnio criador que inscreve a imagem de Deus também na aliança entre homem e mulher.”

A diferença entre o homem e a mulher “não é para a contraposição, ou a subordinação, mas para que aconteça essa reciprocidade necessária para a comunhão e a geração, sempre à imagem e semelhança de Deus”, repetiu o Pontífice.

(Fonte: IHU - http://www.cefep.org.br/201cdevemos-fazer-muito-mais-para-que-a-voz-da-mulher-tenha-um-peso-real-na-sociedade-e-na-igreja201d-diz-o-papa-francisco)

Gestante demitida receberá indenização mesmo tendo conseguido novo emprego

10 Agosto 2015 - TST

Uma cozinheira demitida durante a gravidez pela Refeições ao Ponto Ltda., de Gravataí (RS), teve reconhecido o direito à indenização equivalente ao período de estabilidade provisória, mesmo tendo conseguido outro emprego logo após a dispensa. De acordo com a Sétima Turma do Tribunal Superior do Trabalho, não há enriquecimento sem causa nem ofensa a princípios no fato de a trabalhadora receber a indenização estabilitária do antigo empregador e ter usufruído a licença maternidade, sem prejuízo do seu salário, no novo contrato de trabalho.

A cozinheira engravidou durante o contrato de experiência e foi demitida sem justa causa. Dois meses após a demissão, conseguiu novo emprego e, quatro meses depois, apresentou reclamação trabalhista contra o ex-empregador cobrando a indenização pelo período da estabilidade provisória. Como a empresa ofereceu a reintegração e ela não aceitou, por já estar usufruindo da licença maternidade, o juiz de origem negou o pedido, entendendo que o objetivo da estabilidade da gestante é a manutenção do emprego.

Em recurso ordinário, a cozinheira sustentou que o fato de ter conseguido colocação em outra empresa apenas demonstrou a sua imperiosa necessidade de trabalhar, ainda mais em estado gravídico. No entanto, o Tribunal Regional do Trabalho da 4º Região (RS) manteve a sentença.

Em recurso de revista, a empregada alegou que a garantia constitucional da estabilidade tem por objetivo a proteção ao direito do nascituro, e que o direito à indenização não está atrelado à reintegração.

O ministro Douglas Alencar, relator do caso, destacou que o Regional não concedeu a máxima efetividade à garantia constitucional da melhoria da condição social da trabalhadora, ofendendo o artigo 10, inciso II, alínea "b" do Ato das Disposições CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm> (ADCT). "Se o empregador violar essa garantia e dispensar a empregada gestante, a sanção a ser aplicada é a reintegração ou a indenização supletiva", enfatizou, determinando o pagamento da indenização, no valor do último salário, a partir da dispensa até cinco meses após o parto.

A decisão foi unânime e, após a publicação do acórdão, o restaurante opôs embargos declaratórios, ainda não examinados.

(Paula Andrade/CF)

(Fonte: http://www.tex.pro.br/index.php/noticias2/310-noticias-ago-2015/7334-gestante-demitida-recebera-indenizacao-mesmo-tendo-conseguido-novo-emprego)

Fatores psicossociais e doença cardiovascular

Estresse e outros fatores podem levar a doenças do coração

Além dos fatores de riscos já conhecidos para doenças cardiovasculares, como diabetes, hipertensão arterial, sedentarismo, tabagismo entre outros, aspectos como perfil psicológico, estresse, fatores psicossociais também têm sido associados ao desenvolvimento de doenças do coração. Cada vez mais, existem evidências científicas de que fatores psicossociais contribuem para o desenvolvimento de doença cardiovascular.

Em adição ao risco do primeiro evento cardiovascular, os fatores psicossociais podem piorar o prognóstico de indivíduos portadores de doença coronariana, pois podem ser barreira para aderência terapêutica e para mudanças no estilo de vida. A depressão pode ser um fator de risco para doença cardiovascular e também pode estar associada com maior risco de mortalidade e acidente vascular encefálico.

O mecanismo fisiopatológico dos fatores psicossociais na doença cardiovascular permanece incerto. Pesquisas mostram a importância da inflamação na precipitação de eventos cardiovasculares. Fatores psicossociais podem estar associados a comportamentos predisponentes à inflamação, como tabagismo, sedentarismo e ingestão alcoólica. Em adição, fatores psicossociais estão relacionados com obesidade e aumento de açúcar no sangue.

Alguns estudos sugerem que a exposição a fatores estressantes do cotidiano tem influência nos níveis de pressão arterial, assim quanto maior o nível de estresse, maior o risco de elevação dos níveis pressóricos.

Por tudo isso, é importante desenvolver um estilo de vida saudável que inclui alimentação balanceada, atividade física regular, não fumar e combater o estresse emocional.

Por: Dra. Carolina Mizacci Publicado em agosto 29, 2011

(Fonte: http://www.socesp.org.br/blogdocoracao/2011/08/29/fatores-psicossociais-e-doenca-cardiovascular/)

Falta de investimento atrasa chegada de anticoncepcionais masculinos ao mercado

(*) Arikia Millikan | Vice | Washington - 06/05/2015 - 06h00

Desenvolvidos na Índia e nos EUA, contraceptivos para homens com bom desempenho em testes clínicos não decolam por desinteresse de farmacêuticas e instituições filantrópicas: 'Não é complô do patriarcado; o problema é dinheiro'

O futuro chegou, e ele não é como imaginávamos. Mas fodam-se os carros voadores — onde está nosso anticoncepcional perfeito?

Mesmo atualmente, os métodos contraceptivos disponíveis não são lá muito incríveis, e a responsabilidade de controlar as consequências de nossos desejos carnais ainda recaem quase que exclusivamente sobre as mulheres. Tirando o DIU de cobre, todos os métodos e dispositivos contraceptivos disponíveis para mulheres alteram nossos hormônios e resultam em efeitos colaterais bizarros.

Quando o assunto é anticoncepcionais para homens, tirando as camisinhas e o coito interrompido (dois métodos que não são muito confiáveis), a vasectomia é a única opção para evitar uma gravidez indesejada. Embora a cirurgia possa ser desfeita em alguns casos, a opção não costuma interessar homens mais jovens do que 40 anos. Apesar de outros métodos contraceptivos masculinos estarem sob estudo, os EUA ainda não aprovaram nenhum anticoncepcional masculino.

Mas e se existisse um procedimento que permitisse um homem atirar balas de festim até que ele e sua parceira decidissem ter um filho — e sem a intervenção de um bisturi?

A medicina tem a resposta. Esta técnica tem sido estudada em animais e humanos há mais de 30 anos, praticamente sem efeitos colaterais. Conhecido como "o anticoncepcional injetável masculino", um procedimento conhecido como RISUG (Inibição Reversível do Esperma Sob Supervisão, na tradução do original) foi inventado durante os anos 70 na Índia. Seu criador foi Sujoy Guha, um professor de engenharia biomédica do Instituto Indiano de Tecnologia. O método é acessível, pouco invasivo, e completamente reversível — e é a forma mais eficaz e não definitiva de evitar a gravidez (pelo menos da parte do homem) já criada, ao menos de acordo com todos os estudos sobre o tema.

Em 2010, a Fundação Parsemus, uma organização sem fins lucrativos norte-americana cujo objetivo é "encontrar soluções acessíveis ignoradas pela indústria farmacêutica", comprou a patente do RISUG por 100 mil dólares. A organização está atualmente focada em outra injeção contraceptiva chamada Vasalgel, que tem mais chance de ser comercializada nos EUA.

O processo leva menos de 15 minutos. Um médico injeta uma gotinha de gel sintético no tubo que transporta o esperma, localizado abaixo da pele de cada testículo. Uma vez injetado, o gel ocupa esses tubos e age como um filtro, permitindo a passagem de outros fluidos que não o esperma.

“Do mesmo jeito que a água atravessa a gelatina", disse Elaine Lissner, diretora da Fundação Parsemus.

A injeção não funciona como um anticoncepcional injetável, que deve ser aplicado a cada mês — uma vez inserido, o gel fica no mesmo lugar por 10 anos. Se o paciente decidir ter filhos durante esse período, basta apenas outra injeção de bicarbonato de sódio para dissolver o gel e colocar a fábrica de esperma para funcionar.

Pode parecer bom demais para ser verdade, mas os testes em animais e ensaios clínicos na Índia mostram que o método funciona quase perfeitamente e não tem nenhum efeito colateral. E diferentemente do anticoncepcional oral e das camisinhas, que têm uma eficácia bem menor do que a associada ao "uso perfeito" apresentado nas embalagens, a injeção contraceptiva, assim como o DIU, não deixa espaço para nenhum erro humano.

“Não há nada que você possa fazer para dar errado", disse Aaron Hamlin, diretor executivo da Iniciativa Pró-Contraceptivo Masculino. “Quando existe um método que não te obriga a lembrar de nada, como o Vasalgel, você apenas leva uma injeção no duto deferente e segue sua vida. Depois disso, quando a hora do sexo chegar, você já vai ter feito tudo que era preciso."

E o que acontece com o esperma? Guha sugere que ele explode ou é desintegrado no próprio testículo depois de atravessar o gel. Outros afirmam que o esperma não consegue atravessar o gel e é absorvido pelo corpo da mesma forma que outras proteínas, ou é inativado pela acidez ou pela descarga eletromagnética do gel.

“É difícil dizer o que acontece com o esperma — só sabemos que ele não sai pelo lugar de praxe", disse David Sokal, co-fundador da Iniciativa Pró-Contraceptivo Masculino.

Mas tudo bem, eu entendo. Com exceção de alguns fetichistas, a maioria das pessoas concordaria que: objetos cortantes + partes íntimas = assustador. Mas o que são umas picadinhas nas bolas durante 15 minutos para uma década de sexo sem gravidez?

“Ter o poder de evitar a gravidez ou planejá-la do jeito que você quiser traz vários benefícios", disse Hamlin.

Muitos caras tremem só de ouvir as palavras "anticoncepcional masculino"; como era de se esperar, existem muitas ideias errôneas sobre a técnica. Ela não é uma vasectomia — a injeção nem chega a ser considerada como uma cirurgia. Os dutos deferentes podem ser expostos sem um bisturi; é preciso apenas cutucar o escroto com um fórceps especial para abrir a pele que cobre cada tubo. O buraco resultante é tão pequeno que não necessita de pontos.

"É muito comum escutar descrições incorretas sobre o Vasalgel — muitos dizem que a injeção é feita no pênis, o que não é verdade. Isso assusta, e com razão, os homens... mas a descrição é mentirosa", disse Sokal.

No entanto, durante minha pesquisa eu encontrei algumas razões para não confiar tanto no RISUG e no seu sucessor, o Vasalgel. Primeiramente, os resultados da terceira fase de ensaios clínicos do RISUG não estão disponíveis ao público, e os resultados preliminares publicados pertencem a testes feitos há uma década, e com um grupo muito pequeno. Quando eu entrei em contato com a organização responsável pelos testes conduzidos na Índia, o Conselho de Pesquisa Médica da Índia (ICMR, na sigla original), o diretor Radheys Sharma me disse que eles não poderiam disponibilizar os números de casos bem-sucedidos para uma revista estrangeira sem a autorização do governo, e não respondeu ao resto de nossos pedidos.

Consegui entrar em contato com Guha, o inventor do RISUG, que afirma estar trabalhando nos testes da injeção na Índia, em associação com o ICMR, cuidando da parte das seringas e atuando como um conselheiro na parte dos testes. “Como eu não fui convidado a dar assistência aos pacientes, creio que não haja nenhum problema técnico ou médico", escreveu ele por email.

Outra parte estranha da história é que a fase II dos ensaios clínicos na Índia foi “abortada” em 2002. O Ministério da Saúde Indiano atribuiu esse cancelamento a um efeito colateral não divulgado, mas nenhum dos médicos encarregados dos testes divulgou esse suposto efeito.

Não há nenhum indício, tanto nos relatórios dos testes em animais quanto em humanos, que indiquem algum erro, exceto por um participante de um dos ensaios clínicos que afirmou que sua esposa engravidou após a injeção. (A gravidez foi associada ao manuseio impróprio da injeção, mas existe a possibilidade de que a esposa tenha engravidado de outro.)

Apesar disso, eu consegui achar um artigo científico que classificava alguns dos componentes dos polímeros utilizados no RISUG e no Vasalgel como cancerígenos, baseado nos efeitos observados em acidentes em fábricas de materiais químicos. Entretanto, as quantidades a que esses funcionários foram expostos são bem maiores do que as utilizadas na injeção.

Talvez o melhor motivo para desacreditar no potencial do RISUG e do Vasalgel venha de um fator cultural: muitos homens não querem falar sobre suas bolas com seus médicos. Obrigá-los a seguir o acompanhamento durante um, cinco, ou dez anos após o procedimento é difícil, e isso impede que os pesquisadores coletem informações que provem para os órgãos reguladores que o produto de fato funciona.

Mas os ensaios clínicos que foram concluídos e tiveram seus resultados publicados na Índia nas últimas três décadas foram um sucesso inegável — o suficiente para despertar o interesse da Fundação Parsemus, que tem se esforçado em expandir a pesquisa americana sobre uma injeção contraceptiva para homens. Todavia, o sucesso do que poderia ser o método contraceptivo mais prático dos últimos 100 anos depende de dois fatores: a aprovação da FDA (sigla em inglês da agência norte-americana de Administração de Alimentos e Medicamentos) e a falta de investimento.

“Não acho que isso seja um complô do patriarcado", disse Lissner. “O problema é dinheiro. O processo custa muito caro.”

Como a FDA não aceita resultados de testes conduzidos em outros países, todos os ensaios clínicos feitos na Índia devem ser repetidos nos EUA, com grupos maiores e regras mais rígidas. Os testes em animais custam entre 200 mil e 300 mil dólares e, caso a FDA permita os ensaios clínicos, "as próximas etapas custariam milhões de dólares", disse Lissner.

Entre 5 e 10 milhões de dólares, para ser preciso. Apesar de esse ser o projeto perfeito para uma grande organização filantrópica, a reação tem sido bem desanimadora. Lissner afirmou que os representantes da Fundação Bill e Melinda Gates, por exemplo, "não veem qual é a necessidade da criação de uma versão masculina", pois seu principal foco é oferecer métodos contraceptivos para mulheres de nações em desenvolvimento. "Os métodos contraceptivos para homens são menos avançados; podemos ver isso claramente quando olhamos para os números de homens que usam métodos contraceptivos nos países mais pobres do mundo", disse Kellie Sloan, diretora de planejamento familiar da Fundação.

E nem adianta apostar na indústria farmacêutica — ao contrário dos produtos mais rentáveis, o Vasalgel não vale o investimento, visto que ele é um procedimento rápido e que utiliza materiais relativamente baratos. Lissner destacou que, se uma pessoa entra na puberdade aos 13 anos e não pensa em ter filhos até os 35, isso são 20 anos de contraceptivos que vão direto para o bolso dessas empresas.

“As grandes empresas farmacêuticas gostam de remédios que as pessoas tomam por anos e anos, remédios que elas tomam diariamente", disse Sokal. Em contrapartida, os produtores do RISUG brincam que seu produto custa menos do que a seringa utilizada na injeção; o Vasalgel, por sua vez, custaria muito menos do que um DIU de 800 dólares.

“[As empresas farmacêuticas] acreditam que se elas não ganharem 500 milhões de dólares durante um ano de produção de um remédio, ele não vale o investimento de tempo e energia", disse Sokal, citando suas conversas com representantes da indústria. Segundo essa estimativa, seriam necessárias 625 mil injeções anuais para chamar a atenção dessas empresas — 125 mil a mais do que o número de vasectomias feitas anualmente nos EUA.

E mesmo se uma campanha publicitária genial tornasse essa injeção extremamente popular, porque as grandes empresas farmacêuticas, que vendem diversos tipos de anticoncepcionais hormonais, apoiaram essa ideia?

Sokal não vê isso como parte de uma conspiração, e sim como uma falta de apelo comercial. “Não acredito que essa indústria esteja tentando minar as pesquisas sobre o Vasalgel. Ela provavelmente não vê o produto como uma ameaça", ele disse. “Os grandes cientistas do ramo estão ignorando essas pesquisas. Elas não foram muito divulgadas. Eles só vão reconsiderar essa ideia quando virem os resultados dos ensaios clínicos.”

Quando o RISUG foi criado, ele foi classificado como uma "substância química injetável e não-oclusiva", mas quando a Fundação Parsemus começou a financiar as pesquisas do Vasalgel nos EUA, eles decidiram defini-lo como "um dispositivo contraceptivo injetável e não-oclusivo", colocando-o na mesma definição de um "filtro" — o objetivo era aumentar as chances de aprovação por parte da FDA.

A Fundação Parsemus decidiu parar de investir no RISUG e se focar apenas em seu derivado, o Vasalgel.

O maior problema do RISUG era a instabilidade química que o deixava fora dos padrões da FDA. Se o RISUG for guardado dentro de uma seringa, seu principal componente tende a se acidificar, e por isso o produto inicial é um pouquinho diferente do produto encontrado na seringa após um ou dois anos. Para evitar esse problema, a fundação decidiu simplesmente utilizar o subproduto ácido como a matéria-prima da injeção e renomeá-lo como Vasalgel.

“Nós tínhamos que criar uma versão mais estável", disse Lissner. “A FDA não o aceitaria se não conseguíssemos provar que ele é estável. Então pensamos, porque não usar a versão ácida de uma vez, e ver se funciona?". Os primeiros testes em animais indicam que o Vasalgel funciona tão bem quanto o RISUG, mas serão necessários outros estudos para determinar se ele é mesmo tão eficiente — ou tão seguro.

“Estamos apostando alto, já que o estudo só tem um ano. A gente espera que ele dure tanto quanto o RISUG", disse.

Atualmente, Guha continua a desenvolver o RISUG no Instituto Indiano de Tecnologia em Kharagpur, Índia, e também na empresa privada IcubedG Ideas, da qual é um dos quatro diretores. Ele é otimista quanto à possibilidade do RISUG chegar em breve ao mercado, pelo menos na Índia.

“Os problemas técnicos e médicos foram resolvidos e nós estamos recebendo a verba necessária. No momento, não temos nenhum problema", disse Guha. Quando perguntei por que a terceira fase de testes demorou tanto, ele citou os padrões de segurança da Índia e a importância de acompanhar os pacientes pelos 10 anos seguintes à injeção. “A Índia não compactua com o método descuidado de seguir em frente sem disponibilizar os resultados dos estudos clínicos e pré-clínicos para a comunidade científica mundial, só para ganhar atenção e benefícios comerciais."

“Descuidado" ou não, a Parsemus está trazendo esperança para aqueles que sonham com o Vasalgel; atualmente existem 22 mil homens na lista de espera dos ensaios clínicos, afirma Lissner.

“Nós não temos contato com o Dr. Guha e não sabemos como anda sua pesquisa", disse Lissner. “Espero que a pesquisa esteja evoluindo. Independentemente de quem achar a solução, o mundo vai sair ganhando.”

De acordo com Lissner, a demanda do Vasalgel vem de homens na faixa dos 20 anos — jovens que querem controlar seu futuro reprodutivo, e mulheres que não se adaptam aos métodos disponíveis. Entre esses, o grupo mais enfático, ela diz, são "os jovens solteiros preocupados com um deslize da camisinha ou da pílula. “Eu acho que o que tem atrasado essa pesquisa é a ideia de que os homens não estavam interessados no produto 20 anos atrás. E talvez eles realmente não estivessem — mas os homens de hoje não pensam o mesmo", ela disse.

Ainda este mês, a Fundação Parsemus diz que irá publicar os resultados dos últimos testes do Vasalgel, conduzidos em babuínos. A fundação pretende criar uma campanha de financiamento coletivo pela internet ainda este ano, e a ideia é começar os ensaios clínicos no começo de 2016. Apesar de uma série de notícias publicadas em 2014 terem anunciado que o Vasalgel seria comercializado em 2017, Hamlin disse que é mais provável que isso ocorra em 2020.

Isso se ele for lançado algum dia.

“Ninguém investiu o dinheiro necessário para esse projeto", disse Lissner. Mesmo que os testes do Vasalgel sejam um sucesso, ainda não se sabe quem irá produzir a injeção contraceptiva fora da Índia e dos EUA. Se o produto não for aprovado nos próximos cinco anos, talvez organizações filantrópicas se interessem pela causa.

Pessoalmente, eu sonho com um futuro em que a maioria dos homens fará parte do clubinho dos injetados — um mundo onde a gravidez na adolescência não será mais uma epidemia, e as mulheres não serão forçadas a se encher de hormônios ou a passar por procedimentos cirúrgicos para evitar uma gravidez indesejada. Somado às interessantes inovações no mercado de camisinhas, o sexo será melhor e mais tranquilo do que nunca. Até lá, ficaremos presos na mesma roleta russa de métodos contraceptivos, mesmo conhecendo a salvação há mais de 30 anos.

Tradução: Ananda Pieratti - Matéria original publicada no site da Vice.

(Fonte: http://operamundi.uol.com.br/conteudo/samuel/40323/falta+de+investimento+atrasa+chegada+de+anticoncepcionais+masculinos+ao+mercado.shtmlData, data de acesso 10/08/2015)